terça-feira, 15 de outubro de 2013

Condutor de carro que viu passagem de médica fala ao G1: 'não teve freada'

primeira pessoa que viu a batida entre o carro dirigido pela médica e a moto em que estavam os dois irmãos mortos conversou com a equipe do G1 nesta terça-feira (15). Na segunda-feira (14), ele compareceu à delegacia e prestou depoimento sobre o que presenciou. O acidente aconteceu no bairro de Ondina, orla da capital baiana, na sexta-feira (11).
"A gente [ele e os jovens na moto] parou no semáforo do antigo Salvador Praia Hotel e, quando a moto arrastou, também arrastei. Ocarro branco lá atrás. A moto seguiu em frente e, quando chegou lá na ponta do Ondina Apart, o carro passou com muita velocidade. Eu ainda reclamei e disse 'que motorista maluco!'. De repente, logo depois, teve a colisão dela batendo na moto. O carro jogou o casal contra o poste", relatou em exclusividade para a equipe. "Não houve freada, só derrapagem", acrescenta a testemunha, que não quer se identificar.
Dois médicos do Departamento de Polícia Técnica (DPT) voltaram ao Hospital Aliança, na Avenida ACM, onde a médica está internada desde a ocasião, para fazer mais exames nesta terça-feira. O Ministério Público da Bahia (MP-BA) solicitou ao órgão avaliação da saúde da médica Kátia Vargas Leal Pereira para saber se pode receber alta médica ou ser transferida para um hospital público. "Caso a avaliação seja de que ela tem condição de sair do hospital, ela vai ter alta, prestará depoimento na delegacia e será conduzida para o presídio", explica Daniel Keller, advogado da família. O MP-BA afirma que o laudo deve sair na quarta-feira (16).
Os irmãos Emanuel e Emanuele Dias, de 22 e 23 anos. A testemunha afirma que desceu do carro ao se deparar com o acidente e percebeu que as vítimas morreram na hora, devido ao impacto da batida. "Vi que não tinha nada pra fazer e fui até o carro dela para falar, não sabia que era uma senhora, chegando perto, avistei que era uma senhora. Passo todos os dias por esse caminho, foi muito chocante, muito terrível. Na sexta-feira logo após o acidente eu viajei para tentar esquecer", afirmou.
Prisão preventiva
A médica teve a prisão preventiva decretada na manhã desta terça-feira pelo juiz Moacyr Pita Lima. O hospital onde a oftalmologista está internada deve enviar, no prazo de 24 horas, um relatório médico circunstanciado com a situação clínica da paciente à 1ª vara do Tribunal do Juri.
O relatório deve informar se a médica já pode ser transferida imediatamente para o presídio feminino da capital. "Caso a avaliação seja de que ela tem condição de sair do hospital, ela vai ter alta, prestará depoimento na delegacia e será conduzida para o presídio", explica Daniel Keller, advogado da família.
Hospital público
"O Ministério Público já solicitou ao DPT que o perito faça essa avaliação médica e pedimos isso com urgência. Precisamos saber se ela [a médica suspeita] precisa ficar realmente internada ou não. "Se ficar comprovado que houve algum tipo de encobertamento, o responsável irá responder por crime", disse o promotor do Ministério Público, David Galo, que acompanha o caso.

A polícia acredita que a motorista do carro
assumiu o risco de matar. O advogado dela chegou a informar à imprensa que a médica estáinconsciente, na UTI, e não tem previsão de ser liberada pelos médicos. O hospital, que é da rede particular e não possui assessoria de imprensa, não confirma a informação.Raimundo Moinhos, outro promotor que cuida do caso juntamente com David Galo, disse que, em casos como esse, o custodiado deve ficar internado em um hospital da rede pública de saúde. "Em casos como esses, que envolve crimes, a pessoa presa [no caso, a médica Kátia Vargas] deverá ser encaminhada para um hospital público e a partir daí, o hospital é obrigado a passar o estado de saúde do paciente. Precisamos saber se ela possui ou não condições de prestar depoimento", afirma.
A Transalvador informou que o veículo da médica estava irregular e foi recolhido para pátio do órgão por não apresentar o licenciamento de 2013. O advogado da suspeita foi procurado pela reportagem, mas não atende a nenhuma das ligações desde a segunda-feira. 
Sobre a testemunha
A delegada Jussara Maria de Souza ouviu na segunda-feira (14) a pessoa entrevistada pelo G1. Segundo a polícia, a testemunha acompanhou a colisão entre o veículo e a moto. "A testemunha disse em depoimento que percebeu o carro em alta velocidade na pista e que resolveu seguir o veículo [ele estava em outro carro]. Só depois ele percebeu que a motorista estava seguindo um motociclista e ele viu o momento exato da batida. Ele contou também que parou o veículo e foi tentar socorrer as vítimas, mas logo percebeu que dois estavam mortos. Depois ele foi socorrer a motorista do veículo. Em depoimento, a testemunha chegou a dizer que a moto caiu em cima da menina", contou a delegada. Ela disse também que a testemunha não apareceu antes para prestar esclarecimentos porque ficou bastante chocado com o caso.
Motoqueiros, amigos e parentes fazem passeata por morte de irmãos na BA (Foto: Imagens / TV Bahia)Motoqueiros, amigos e parentes fazem passeata por morte de irmãos na BA (Foto: Imagens / TV Bahia)
Motoqueiros, amigos e parentes fazem passeata por morte de irmãos na BA (Foto: Ricardo Sizilio / Arquivo Pessoal)Motoqueiros, amigos, parentes e populares participaram de homenagens aos irmãos mortos após acidente de trânsito (Foto: Ricardo Sizilio / Arquivo Pessoal)
Quem também não conhecia as vítimas e acompanhou a passeata foi a professora universitária Sônia Simon. "Estou aqui para lutar contra a impunidade. Não podemos deixar que fatos como esses passem impune, porque a Justiça tem que ser a mesma para todos.Eu espero que ela (a médica) seja punida com prisão e com a cassação da sua licença, afinal de contas ela fez um juramento de salvar vidas", completou.
O caso
Emanuele e Emanuel Dias estavam em uma moto quando foram atingidos pelo carro de uma médica, na manhã da sexta-feira, e morreram na hora. Com base em imagens, a Polícia Civil acredita que a morotista do carro, uma médica oftalmologista assumiu o risco de causar as mortes e lavrou o flagrante. Ela está internada e custodiada no Hospital Aliança. O advogado de defesapediu à Justiça a liberdade provisória na madrugada deste sábado e aguarda a decisão sobre o recurso.
Os corpos dos irmãos foram enterrados no fim da manhã do sábado (12). A despedida reuniu a família e muitos amigos das vítimas, que tinham 22 e 23 anos, no Cemitério Campo Santo.
Segundo familiares, a mãe, que está em estado de choque, comenta que a vida de acabou. "Eles eram o que ela tinha de mais precioso", primo das vítimas, Victor Dias. O rapaz trabalhava como vendedor em uma loja de artigos esportivos em um shopping de Salvador e a jovem cursava o 6º semestre de Direito.
Enterro dos irmãos mortos em acidente de trânsito no bairro de Ondina, em Salvador, na Bahia (Foto: Reprodução/TV Bahia)Um dos caixões seguiu primeiro, seguido do segundo. (Foto: Reprodução/TV Bahia)Velório de irmãos mortos em acidente de carro no bairro de Ondina, em Salvador, na Bahia (Foto: Imagem/TV Bahia)Amigos se despedem de jovens irmãos em Salvador (Foto: Imagem/TV Bahia)
Registro de câmeras
As imagens do acidente foram assistidas na noite de sexta-feira (11) pela delegada Jussara Maria de Souza. Em conversa à imprensa, ela afirmou que as imagens são "conclusivas" e mostram que o choque do carro com a moto foi intencional. Pouco antes, Souza já havia indicado "fortes indícios de homicídio".
"Fica nítida a perseguição e, logo depois, a condutora do veículo coloca em risco não só o que ocorreu, as mortes, como também transeuntes, as pessoas que aguardavam no ponto de ônibus. Fica clara a velocidade acelerada para a via naquele momento. Além de o carro ter sido projetado na contramão. Por pouco, não ocorre colisão com carro na contramão e não invade o ponto de ônibus", diz a delegada.

Posição da defesa
Para o advogado Vivaldo Andrade, a versão da polícia é precipitada. "Acho que temeridade como foi feito pela policia, dizendo que o fato aconteceu dessa forma, porque não existe nada que comprove que a cliente perseguiu e jogou o carro contra as pessoas. O delegado tem que se basear nas provas e até agora não há provas. Ela é casada, tem dois filhos, mais de 20 anos de profissão, presta inúmeros serviços comunitários e merece respeito. Poderia acontecer com qualquer pessoa", justifica.
acidente (Foto: Gabriel Gonçalves/G1)Acidente matou dois jovens irmãos em Salvador
(Foto: Gabriel Gonçalves/G1)

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